Chamada para publicação 2024-2
Prazo para envio dos trabalhos: 20 de novembro de 2024
Literatura Cósmica*
A literatura, para as lentes modernas, é um dos bastiões que delimita as esferas que a dividem entre natureza e cultura. Segundo a partição moderna, haveria um lado invariável – a necessidade, as leis, a determinação, o físico – e outro variável – a contingência, a ficção, os acontecimentos e o psíquico. Em muitas áreas, podem existir zonas fronteiriças. No caso da literatura, supostamente não há dúvida: nada define melhor o sentido de “humanidades” que o fazer literário e suas “representações”.
Por outro lado, a divisão mostra-se cada vez mais desgastada em função da intrusão de Gaia – ou o Antropoceno – e suas perturbações em torno aos limites que separavam “natural”, “cultural” e “artificial”. Ao mesmo tempo em que há uma erosão das fronteiras que separavam as hard sciences das humanidades, cada vez mais caminhando em uma direção transdisciplinar para pensar os problemas ecológicos, a consciência de que o arranjo moderno também tinha como seu fundamento o poder colonial retoma o interesse por outros arranjos cósmicos. Novos espaços pensados a partir de matrizes como a indígena – como a recepção atual de obras de Aílton Krenak, Denilson Baniwa, Davi Kopenawa, Daniel Munduruku, Silvia Cusicanqui ou Gliceria Tupinambá, entre outros –, as variações africanistas – como a afrocentricidade, o afrofuturismo, o quilombismo, a condição afrodiaspórica, o “pensar Nagô”, a filosofia das encruzilhadas –, ou ainda os múltiplos feminismos e filosofias queer – como nos novos materialismos, no xenofeminismo, no ecofeminismo ou no feminismo dos comuns – são algumas das perspectivas que desafiam o cosmos moderno e quiçá suas formas mais ancestrais. Em um mundo sem um eixo eurocentrado, reverberam os cosmos chineses, japoneses, coreanos, árabes, nigerianos, egípcios, guaranis, dos povos aborígenes, entre tantos outros. […]