Chamada para publicação 2025-2
Prazo para envio dos trabalhos: 20 de setembro de 2025
Mulheres plurais: o corpo/corpus nas dimensões de(s)colonais*
Sueli Carneiro (2005), em sua releitura dos conceitos de biopoder e dispositivo de Foucault, salienta que os discursos coloniais, nas suas mais diferentes esferas e na atualidade, se renovam e são constantemente retroalimentados. Tais discursos, articulados nas dimensões aparentes e subterrâneas da sociedade, são diluídos pela falsa naturalidade. Para Nelson Maldonado-Torres, a percepção e a urgência em se discutir e iluminar essas sombrias e complexas articulações de poder, bem como conhecer as formas como são (re)criadas, (re)produzidas e ocultadas, constituem o que se denominou “giro des-colonial” (2008, p. 66). Com os avanços das práticas e metodologias de resistências aos lugares comuns do eurocentrismo, ou dos insistentes discursos coloniais, teorias como da decolonidade, necropolítica, biopoder, desobediência epistemológica, etc., surgem como propostas de retomada das corporeidades silenciadas. A questão dos corpos inarmônicos, a condição da mulher negra e a escrita de autoria feminina não branca, por exemplo, cujos projetos estéticos e políticos têm discutido a percepção e a construção dos corpos femininos (nas suas diversas possibilidades de manifestações e materialidades), desconstruindo estereótipos e provocando inter-relações, têm ganhado mais espaço no universo literário, oficializando outras crônicas (Souza, 2018). Há um movimento que se desenha nas vicissitudes da urgência contemporânea e que se materializa em estratégias de existência e de reexistência, cujas incorporações atravessam a escrita, a estética, o letramento, a dimensão artística e suas expressões/produções, bem como suas diversas manifestações culturais (Souza, 2009). Nesse caminho, há na literatura e outras expressões de autoria feminina não branca, sobretudo no contexto diaspórico e contemporâneo, singularidades estéticas e temáticas expressivas, como a desconstrução do discurso colonizador, o remanejamento da identidade feminina, o corpo em confronto com as relações ditas patriarcais e coloniais, a desmistificação da representatividade do corpo não branco subalternizado, a retomada de uma subjetividade ancestral e mítica – obviamente que essas singularidades temáticas não estão estagnadas e nem retesadas apenas nelas. Nessa perspectiva, esta chamada pretende se debruçar sobre temas como discurso e lugar de poder nas corporeidades de autoria feminina não-branca (nas mais diversas em que a categoria de gênero pode contemplar), continuação/quebra da hegemonia masculina, linguagens artísticas e culturais e a função social/política, etc. reconhecendo os avanços e enfrentando as lacunas institucionais que propagam, mesmo que inconscientemente, a hegemonia branca e masculina nas produções artísticas e sociais.